27 de jun. de 2014

BRASIL, PAÍS DE DOUTORES

PACINI, Diogo Barth. 


O pesquisador e blogueiro Alysson Muotri em seu blog Espiral, no G1 postou um artigo muito interessante sobre a situação dos estudantes no Brasil.

Quanto ao meu ponto de vista, concordo plenamente com ele, e ainda acrescento o seguinte (relacionado a ciências Biológicas e da saúde): No Brasil, quando você acha que tem algo, esse algo não serve pra nada. Vejam: Quando você está no ensino fundamental (obviamente depois da 6º ou 7º série), você quer trabalhar e esbarra no seguinte - tenho que aceitar qualquer coisa (não menosprezando nenhuma profissão, leiam que vocês entenderam onde eu quero chegar), visto que não tem nenhuma formação superior. Com o tempo você vai para o ensino médio, descobre que isso não é o suficiente, visto que o mercado de trabalho exige ensino universitário. Tranquilo, você faz o vestibular e vai pra faculdade, lá descobre que o curso não é tudo aquilo que você imaginava, não estou me referindo a qualidade e sim aquela ideia de que quando chegar a faculdade vai estudar só o que gosta, bem, sinto dizer mas isso não é verdade, muitas das matérias vocês não irão gostar, fora que você entra na faculdade com uma ideia, ao longo do curso vai mudando, e quando conclui está com outra opção totalmente diferente do que imaginava (isso é a maioria dos casos, é raro a pessoa que entra e sai com o mesmo pensamento). Agora você concluiu a faculdade, vai para o mercado de trabalho, descobre que ter faculdade não é tão bom assim, já que teve a capacidade de concluir o ensino superior, terá que ter capacidade em se especializar, pois é isso que o mercado de trabalho quer, ESPECIALISTAS.

E não estou falando somente no que diz respeito a empresas privadas, nas públicas também, se você for fazer concurso público, vai se deparar com uma concorrência desleal, pois concorrerá em pé de igualdade (na prova) com outras pessoas, que tem Especialização, Mestrado e muitas vezes Doutorado, se você passar na primeira etapa, não pode comemorar, porque ainda terá a análise de títulos, ai está a desigualdade, pessoas com Especialização, Mestrado ou Doutorado, mesmo que estejam abaixo de você na classificação, irão lhe passar pra trás, visto que isso conta bastante ponto, fora outros pontos, tais como: publicação de artigo, periódicos, livros e/ou capítulos em livros, trabalhos técnicos, produção (patente ou qualquer outro registro), entre outros. Tudo isso conta ponto, com isso, já percebeu, suas chance (caso só tenha graduação) vão a quase 0%. E agora o que fazer? Você irá insistir no concurso, tentará abrir uma empresa ou irá distribuir currículo por ai. E, alguns tentarão uma especialização, neste esbarra em duas situações: Lato-sensu ou Stricto-sensu?; 

Lato-sensu - conhecido como especialização, são cursos em sua maioria teórico, de curta duração de 6 meses à um ano e meio. E nele você terá vários módulos (um de cada assunto relacionado ao tema principal da especialização), onde será avaliado ao final de cada um. Muitos desistem antes do final, outros levam até o final (afinal terá peso no currículo), durante o curso muitos professores irão fazer propaganda e/ou tentaram fazer você continuar o estudo e ir para um mestrado. 

Stricto-sensu - conhecido como mestrado, de tempo variado (mínimo 2 anos), onde você se depara com diversas situações exigidas pelas faculdades: Algumas universidades dificultam a entrada e a saída (pedem pré-projeto e carta de recomendação (normalmente de 2 pesquisadores), além das provas de conhecimento, e do segundo idioma (inglês) fluente), outras facilitam a entrada e dificultam a saída (somente a prova de conhecimento e a carta de recomendação - mas ao longo do curso você terá que escolher um projeto pra participar, e, pra receber o título terá que fazer a prova de proficiência (domínio da língua inglesa)). O melhor a fazer é iniciar com a especialização para acostumar, pois você ainda pode contar com a ajuda dos professores, mas terá que correr atrás de muitas coisas. No mestrado, é cada um por si. Enfim, ai você poderá aumentar o seu leque de opções de trabalho, e aumentará sua chance no concurso. Mas muitos não param por ai e vão para o Doutorado. 

Stricto-sensu - além do Mestrado tem o Doutorado, neste você terá dificuldade de entrar e sair e muita chance pra desistir, pra entrar existem uma série de exigências entre elas fluência em 2 línguas estrangeiras. Pra falar do doutorado eu vou colocar aqui a postagem feita pelo Alysson Muotri no dia 02/03/2010:
 "Durante uma tese de doutorado você passa por diversas situações que o estimulam a desistir, e simplesmente abandonar tudo. São longas horas de dedicação a um determinado assunto. Durante anos você é mal remunerado e nem sonha com qualquer direito trabalhista. Afinal, você é um “estudante”. Mas também não tem diretos estudantis. Esse “limbo” acadêmico que é o doutorado termina após muito sacrifício e abstinência dos prazeres mundanos, sacrifício da saúde, pouco contato com a família e com amigos. Isso acontece com a maioria dos doutorandos em ciências biológicas. Acredito que não seja muito diferente em outras áreas do conhecimento. Se você é exceção, acaba com uma bela tese e os resultados serão publicados numa revista de impacto ou mesmo num livro, dependendo do assunto. Em geral, a maioria dos doutorandos “só” termina a tese. Ela será impressa e arquivada em uma prateleira de alguma biblioteca, de alguma universidade. Resta a sensação de ter contribuído um pouquinho com o potencial intelectual da espécie humana. Para muitos isso basta, afinal agora você tem o título de “doutor”, é uma autoridade em determinada área e um leque maior de possibilidades poderá se abrir para você. Segundo dicionários da língua portuguesa, “doutor” é aquele que atingiu o maior grau de instrução universitária. É todo aquele que defende uma tese na presença de uma comissão julgadora de especialistas da área, os quais julgam a originalidade e relevância da dissertação. Apenas instituições universitárias autorizadas podem conceder o título. No Brasil, “doutor” é também um título tradicionalmente associado a bacharéis, médicos e advogados. Em alguns casos, como para os advogados e certos religiosos, o título é garantido constitucionalmente, com origens não muito nobres, datadas do período da colonização brasileira. Em outros, como no caso dos médicos, o título é informal, garantido pelo povo como respeito ou admiração a esses profissionais. Em países de língua inglesa, os títulos profissionais são usados de forma mais específica para cada caso ou profissão. Por exemplo, usa-se o termo “Medical Degree” ou simplesmente “MD”, informando que o profissional é formado em medicina. Caso esse profissional defenda uma tese, ganha também o direito de usar o “PhD” (Philosophiae Doctor), assim como o “Dr” brasileiro, indicando o mais alto grau acadêmico. “MD” e “PhD” distinguem dois tipos de profissionais de saúde, que podem ou não usar os dois títulos. Voltando ao Brasil. Na realidade, em nosso país, o título de “doutor” se estende para todo “homem muito instruído em qualquer ramo” (a definição do Houaiss), incluindo engenheiro, pastor, político, economista, dentista, delegado etc. E como “instrução” é um parâmetro subjetivo, acaba-se assumindo que todo homem “bem-sucedido” teve instrução. Na sociedade brasileira, a vestimenta do indivíduo, ou seus bens materiais, refletem a imagem “bem-sucedida”. É essa imagem que faz muito engravatado ser chamado de “Doutor” pelas pessoas, principalmente as mais humildes. Esse percurso inusitado do termo “doutor” acaba dividindo classes sociais em doutores (ricos) e não doutores (pobres). “Doutor” deixa de ser utilizado como um título e vira pronome de tratamento. O famoso “Pra você é Doutor Fulano” anda de mãos dadas com o egocêntrico fenômeno nacional “Você sabe com quem está falando?”, bem utilizado em discussões onde o interlocutor busca uma forma de demonstrar superioridade e proteção. O uso indiscriminado do termo reflete a forte tendência do tradicional distanciamento das classes sociais no Brasil. Nesse cenário, o papel do doutor acadêmico acaba diluído, pois o número desses profissionais é bem menor. Longe de mim querer restringir o direito de uso do termo “doutor” somente àqueles que defenderam uma tese. Meu objetivo com esse texto é apenas informar o leitor que existe uma classe de doutor – aquele que faz pesquisa científica. A maioria desses doutores não gosta de ser chamada de doutor, não ganha bem e raramente usa gravata. Há doutores bons e ruins em todas as áreas, doutores que recebem o título por mérito e outros que se autointitulam doutores. Pequenas ações, como reciclar o lixo, economizar água ou recolher o cocô do cachorro da rua, podem alterar em muito nosso ambiente social. O uso do termo “doutor” com mais cuidado pela população pode ajudar a diminuir a distância social, valorizar os melhores profissionais em todos os ramos, além de estimular o aperfeiçoamento individual. "

Bem, como vimos, qualquer pessoa (em especial aos que vão procurar a carreira em Ciências Biológicas e da Saúde), o caminho é longo, cheio de pedras e barreiras, mas temos que seguir em frente, realizar nossos sonhos, conquistar nosso espaço no mundo e quem sabe contribuir ou ajudar e ensinar outros a contribuir para um mundo melhor. Como diz o ditado: "Vamos em frente que atrás vem gente"...