27 de jun. de 2014

BANCO GENÔMICO: IDENTIFICAÇÃO GENÉTICA DE DIPTEROS DE INTERESSE FORENSE.

PACINI, Diogo Barth.

Banco genômico é uma biblioteca que contém fragmentos de DNA clonados em um numero de vetores. No banco genômico ficam armazenados diversos porções do DNA para que a sociedade cientifica possa consultar e/ou comprar esses fragmentos de DNA para diversos fins, tais como identificação, análise e pesquisa específicas. O Banco genômico em questão é um banco onde serão pesquisados e clonados DNAs referente a dípteros de interesse forense.

            Os Dípteros de interesse forense, são aqueles que podem ser encontrados em cenas de crimes e os estudos destes dípteros podem auxiliar os peritos criminais a solucionar o crime. Os Dípteros podem ser estudados para serem desvendadas as questões do IPM (intervalo pós-morte), das possíveis causa da morte, do local da morte e inclusive o percurso de “desova” deste corpo (quando ocorre). O grupo Diptera engloba, especialmente neste caso, as Moscas, existem diversas espécies de moscas necrófagas (se alimentam ou utilizam carne em decomposição para a reprodução). 

            O corpo após a morte pode ser “visitado” por moscas que tem um sentido olfativo extremamente apurado, que facilita na identificação de indivíduos mortos, isto é, estas moscas não colonizam corpos vivos. O corpo em decomposição passa por vários estádios, que vão de estádio inicial de decomposição até a ossificação, cada etapa de decomposição (período) é colonizado por algumas espécies de moscas, isso significa que as espécies de moscas que colonizam o corpo no estádio inicial de decomposição, são diferentes das espécies que colonizam o corpo em outros estádios, essa diferença facilita a identificação do tempo de morte principalmente se for superior a 3(três) dias de decomposição.

            Existem diversos espécies de moscas que são endêmicas, isso é, são especificas de certas regiões geográficas, conhecendo isso, identificando as moscas que estão colonizando o corpo podemos chegar ao local de morte do individuo e descobrir se o individuo foi morto no local, ou foi “desovado” naquele local, quer dizer, foi morto em um local distinto daquele encontrado, caso seja essa a situação, podemos descobrir por meio da identificação das espécies de moscas, onde o corpo possivelmente passou após a morte e/ou descobrir o local aproximado da morte.

            Sabe-se também que as moscas colonizam de forma diferente os corpos que tiveram alteração químicas, isto é, morte por overdose ou se foi morto envenenado. As moscas também são extremamente sensíveis a umidade, temperatura e a forma de exposição do corpo, isto é, o clima também pode alterar a forma de colonização do cadáver.

            A identificação da moscas podem nos dar tanto o tempo de morte como local da morte, ou até mesmo a causa da morte, por isso é muito importante sabermos identificar tais espécies. Se a mosca coletada estiver no estádio adulto, é fácil identificar por meio de características morfológicas, mas se for coletado larva, ovo ou pupa, é difícil identificar, visto que são muito idênticos, além de existir famílias de dípteros que as espécies que as compões são muito idênticas também em estádio adulto e nestes necessitam serem feitas análises genética para a identificação.

            A finalidade do banco genômico é, utilizando a técnica de PCR-RFLP em DNAmt, para poder encontrar a porção do DNA que caracteriza especificamente uma única espécie, e reproduzindo in vitro esta porção do DNA podemos criar uma biblioteca genômica que os pesquisadores e peritos poderão ter acesso a porção do DNA que identifica as espécies de dípteros que podem ser encontradas no local do crime.

            O primeiro passo é a extração do DNA da amostra. Esta extração tem por finalidade solubilizar os ácidos nucléicos e, em alguns casos, também lisar as células, núcleos e organelas. Para ser realizada com a desintegração dos tecidos adicionando-se um tampão de extração (que mantém a integridade das moléculas de ácidos nucléicos), detergentes (que agem dissociando as proteínas dos ácidos nucléicos  e dissolvendo os lipídeos das membranas celular) e procedendo-se uma homogenização. O extrato é obtido separando-se o material insolúvel por uma série de centrifugações.

            Em seguida é feita a PCR (reação em cadeia da polimerase) é um método de amplificação, isso é, um método para criar diversas cópias de DNA sem o uso de um organismo vivo, essa técnica é muito sensível e por isso tem que ser realizado com muito cuidado para evitar contaminações que possam atrapalhar o resultado, inviabilizando ou tornando o resultado errado. Para fazer a PCR inicialmente tem que ser extraído o material genético, como o produto do banco genômico é ligado a dípteras(Moscas) de interesse forense, inicialmente faz-se uma coleta das moscas, posteriormente uma análise morfológica destes, separando por espécie, em seguida se faz um macerado para separar o DNA, por meio da técnica de RFLP, faz-se a análise das porções que foram desmembradas do DNA para se descobrir a parte que diferencia a espécie, normalmente essa parte é encontrada no DNA mitocondrial, visto que este é herdado exclusivamente da parte materna e é mais protegida do que o DNA nuclear. Após descoberta esta porção de individualização do DNA, faz-se um isolamento e em seguida utilizando a técnica de PCR se faz várias cópias para ser armazenada no banco genômico.

            Após extraído o DNA é misturado em um pré-mix (que contém os dNTPs, os primers e a enzima DNA polimerase, misturados em uma solução tampão) toda essa mistura é colocada em um termociclador, que faz ciclos de temperaturas pré-estabelecidos com tempos exatos.

            A PCR compreende três etapas, na primeira etapa a temperatura é elevada da 94 a 96ºC por pouco tempo para que haja a desnaturação (separação da dupla fita de DNA). Na segunda etapa é a temperatura é reduzida entre 50 e 60ºC dependendo da quantidade de C e G encontradas no primer, para que os primers se anelem com o DNA. A terceira e última etapa a temperatura é elevada a 72ºC para que a enzima possa funcionar sintetizando a nova molécula. Normalmente são realizadas de 20 a 40 ciclos para cada reação na qual a taxa de replicação é exponencial (2ciclos).

            Após o fim dos ciclos o DNA é analisado através de uma eletroforese em gel de agarose ou de poliacrilamida. A eletroforese é uma técnica de separação de moléculas que envolve a migração de partículas em um determinado gel durante a aplicação de uma diferença de potencial, as moléculas são separadas de acordo com o seu tamanho, pois as de menor massa irão migrar mais rapidamente que as de maior massa, além do tamanho em alguns casos o formato da molécula também influi.

Após a aplicação em gel, é feita a escolha conforme o tamanho da banda, a banda escolhida é submetida as técnicas de RFLP (Polimorfismo no Comprimento de Fragmento de Restrição). Nesta técnica é feita um tratamento do DNA com as enzimas de restrição (endonucleases), que corta em um grande número de pontos (chamados de sítio de restrição), gerando assim uma grande quantidade de fragmentos dependendo do tamanho do genoma. As diferenças na seqüência de DNA das moscas resulta na clivagem de fragmentos de tamanho distintos, que são separados através de eletroforese em gel de agarose.

            As enzimas de restrição são endonucleases que clivam o DNA em regiões específicas. Existem 3 tipos de enzimas de restrição, as de Tipo I (corta o DNA aleatoriamente a 1000 pb do sítio de especificidade), as de Tipo II (cortam no sítio de especificidade ou perto dele), as de Tipo III (cortam a 24 – 26 pb 3’ do sítio de especificidade). As enzimas tipo II são as mais usadas em engenharia genética pelo fato de que seu padrão de clivagem é previsível e controlado. Eles geralmente cortam regiões específicas dentro de tetra, penta ou hexanucleotídios que tem um duplo eixo de simetria rotacional. Tais seqüências são denominadas de palíndromos.

            Com a clivagem do DNA e a formação de diversos fragmentos de DNA com tamanho distintos, conseguimos diferenciar as espécies, pois cada espécie tem uma disposição distinta. Mas somente fazendo a leitura em gel de agarose não conseguimos visualizar essa diferença, para que essa visualização ocorra, precisa-se efetuar a detecção dos marcadores moleculares (RFLP), para isso é preciso transferir os fragmentos separados na eletroforese para uma membrana de nylon, essa transferência é feita por capilaridade utilizando um método denominado “Southern blot”. Nesta técnica a membrana de nylon é posta sobre o gel, onde é feita uma pressão uniforme sobre o gel (essa pressão pode ser feita utilizando uma pilha de papel toalha com um peso em cima), isso faz com que o DNA passe do gel para a membrana, onde ele se adere, esta por sua vez é exposta a radiação ultravioleta para ligar o DNA à membrana permanentemente.

            Para a revelação, isto é, para visualizar essas porções é necessário fazer uma hibridização de pequenos fragmentos clonados de DNA denominados “sondas”, com seqüências homólogas do DNA imobilizando na membrana, assim somente os fragmentos fixados na membrana que são homólogos ao DNA da sonda serão visualizados entre os milhares de fragmentos resultantes do corte com enzimas de restrição. Para a preparação das sondas incorporam-se nucleotídeos contendo moléculas de fósforo radioativos nos fragmentos clonados do DNA. Após a hibridização com as sondas, a membrana é exposta a filme de raio-x em um processo chamado de autoradiografia, revelando as bandas que constituem os marcadores RFLP.

            Como resultado, criam-se marcadores específicos para cada espécie. O banco genômico será alimentado a cada espécie caracterizada por PCR-RFLP.

A caracterização de marcadores moleculares do DNAmt por meio de PCR-RFLP tem-se mostrado bastante eficiente na identificação de insetos de importância forense. Pelo menos 18 espécies de dípteros da família Calliphoridae já tem suas seqüências depositadas no GenBank. No Brasil, estudos têm sido conduzidos com o fim de padronizar tais técnicas para espécies de moscas brasileiras. A caracterização destes marcadores podem contribuir não somente com a identificação de dípteras de interesse forense, mas também contribuir significativamente para a resolução de conflitos taxonômicos (para espécies com grande proximidade morfológica) assim como possibilita uma rápida e eficiente identificação de insetos imaturos (cujos caracteres morfológicos nem sempre são tão evidentes).

O banco genômico tem a característica de ser de acesso público, em especial pela sociedade cientifica, onde poderá ser ampliada não somente a parte das moscas, mais também poderão ser adicionados características de mosquitos, e de outras ordens, como lepidópteras e coleópteras, que são muito utilizadas para o mesmos fins. O acesso ao banco além de inclusão de informações, poderão ser comprados kits com marcadores moleculares para pesquisas e perícias criminais.

            As perspectivas referente ao banco é que ele seja “alimentando”, isto é, sejam acrescentados novos marcadores moleculares e/ou sejam evoluídos os marcadores, e possam a ser confeccionados os microarray (micro arranjos), produzindo assim chips que facilitaram o trabalho dos cientistas e peritos, pois são menores e portáteis.

           

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Wikipédia, disponível em < http://pt.wikipedia.org/>.